Ferreira, Ana
Qualidade do ar interior em escolas e saúde das crianças / Ana Ferreira
Qualidade do ar interior em escolas e saúde das crianças / Ana Ferreira
. - Coimbra : Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra : Coimbra Health School, 2016
. - 509 p. : Quadros, fig. 23 cm
. - (Ciência, Saúde e Inovação . Vol. 6 . 28)
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O moderno e crescente padrão de consumo tem consequências no ambiente que, inevitavelmente, se refletem na saúde humana. Diariamente, a qualidade do ar afeta o nosso bem estar e pode afetar o nosso futuro, razão pela qual a qualidade do ar interior (QAI) tem sido apontada como um dos principais riscos ambientais para a saúde pública. Na Europa, a poluição atmosférica é considerada como uma questão ambiental premente por ter um grande impacte na saúde dos cidadãos. Entre estes, as crianças são consideradas como sendo um grupo particularmente vulnerável. O nível de poluição do ar interior dos edifícios, pode atingir valores 2 a 5 vezes superiores ao do ar exterior. Os níveis de contaminação do ar interior adquirem mais relevância quando se tem em consideração que na sociedade moderna as pessoas passam cerca de 80 a 90% do seu tempo dentro dos edifícios. Apesar da existência de alguns estudos epidemiológicos relativos à QAI em escolas, pouco ainda se sabe sobre a QAI em escolas portuguesas, nomeadamente em escolas do concelho de Coimbra. A perceção dos problemas de QAI é relevante para avaliar os riscos para a saúde e rendimento dos estudantes, e para propor medidas de redução da exposição a poluentes indesejáveis. Este trabalho pretende ser um contributo para a compreensão da qualidade do ar interior em escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico do Concelho de Coimbra e saúde das crianças. Neste estudo avaliaram--se as concentrações do monóxido de carbono (CO), dióxido de carbono (CO2), ozono (O3), dióxido de azoto (NO2), dióxido de enxofre (SO2), compostos orgânicos voláteis totais (COVs), formaldeído (CH2O) matéria particulada (PM2,5 e PM10) e a temperatura (T°) e humidade relativa (Hr), por forma a caraterizar a QAI de salas de aula das escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico (EB1) do Concelho de Coimbra, bem como a qualidade do ar ambiente e estimar o estado atual de saúde dos estudantes e propor medidas mitigadoras. Classificamos o estudo de nível II, do tipo observacional e de natureza transversal. A amostragem foi não probabilística quanto ao tipo e por conveniência quanto à técnica. Para a realização deste estudo procedeu-se no outono/inverno e na primavera/verão à avaliação da qualidade do ar em 51 escolas pertencentes a freguesias mediamente e predominantemente urbanas e a freguesias predominantemente rurais, bem como à avaliação da capacidade respiratória das crianças do 1º e 4º ano dessas escolas. Os pais/encarregados de educação foram ainda questionados sobre os sinais, sintomas e patologias dos seus educandos. A amostra foi constituída por 82 salas de aula e por 1019 estudantes, com média de idades de 7 anos (desvio-- padrão=1,54). Os dados recolhidos foram posteriormente tratados com recurso ao software estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 19.0. A interpretação dos testes estatísticos foi realizada com base no nível de significância de p=0,05, com intervalo de confiança de 95%. xxi Verificámos que as concentrações médias dos poluentes no ar interior foram superiores às concentrações médias verificadas no exterior (com exceção das partículas e do CO na primavera/verão), o que demonstra a importante contribuição de fontes interiores nas escolas. Os níveis de CO2, COVs, PM10, PM2,5, CH2O, Hr e Tº em várias salas de aula excederam os níveis máximos aceitáveis para a saúde e conforto dos ocupantes estipulado pela regulamentação portuguesa. Estes resultados demonstraram que as condições de ventilação inadequadas foram responsáveis pela acumulação de poluentes do ar interior em várias salas de aula. No entanto, também a ocupação e as atividades escolares foram identificadas como determinantes da QAI. Constatámos ainda que, dos parâmetros que revelaram resultados preocupantes e acima do valor legislado, o CO2, os COVs e o CH2O, apresentaram concentrações médias no exterior mais elevadas em zonas predominantemente urbanas, enquanto que as partículas PM10 e PM2,5 revelaram concentrações mais elevadas em zonas predominantemente rurais. Verificámos que nas salas de aula com pavimento de madeira as concentrações médias de PM10 foram mais elevadas do que em salas de aula com diferente tipo de pavimento, o que evidência que as caraterísticas do tipo de material de revestimento do piso estão relacionadas a uma maior dificuldade em efetuar a limpeza, provocando desta forma um acumular de poeiras entre o material. Da estação outono/inverno para a primavera/verão, o número de alunos expostos a poluentes diminuiu tendo-se verificado também uma melhoria expressiva do padrão espirométrico. Constatámos associações entre alguns parâmetros ambientais analisados e sinais, sintomas e patologias, bem como alterações na função respiratória nos estudantes. Implementar mecanismos para a melhoria da qualidade do ar em escolas representa uma medida importante para a prevenção de consequências adversas à saúde das crianças. Os resultados encontrados reforçam o interesse do estudo do binómio ambiente e saúde, nomeadamente na área referente à relação entre os poluentes do ar interior e o impacte na saúde das crianças. Efetivamente um risco acrescido de ocorrência de problemas ambientais poderão conduzir a um aumento da incidência de várias doenças. Estes resultados demonstram a oportunidade de efetuar intervenções corretivas, nomeadamente reduzindo as fontes emissoras e promovendo maior ventilação. Existe um longo caminho a percorrer na minimização dos impactes na saúde resultantes da exposição aos fatores de risco ambientais. É fundamental: o desenvolvimento da investigação aplicada e integrada das causas, dos mecanismos e dos efeitos nas diversas vertentes do binómio ambiente e saúde; a divulgação de resultados e conclusões obtidos por forma a promover a informação, sensibilização, formação e educação; a definição de orientações de prevenção, controlo e redução dos riscos inerentes.
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Air sanitation and hygiene
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